Decepção?
Até que não, perdi o navio pra Irlanda mas consegui ter o equilíbrio emocional para superar e seguir a diante.
Aconteceu o seguinte:
Eu havia planejado passar em dois países de origem Celta: a Irlanda e a Galícia na Espanha.
Não deu nem um nem outro.
No caso da Irlanda "forças ocultas" me tiraram do caminho.
Primeiro o trem que me levava à Cherbourg na França atrasou e depois quebrou. Chegamos 30 mim depois do Navio que nos levaria à Irlanda ter partido.
Fiquei meio pasma, trem quebrando na Europa? Muito improvável mas não impossível.
No primeiro momento fiquei chocada, depois pensei bem: O quê, eu sai do Brasil pra me divertir se eu ficar aborrecida assim logo de cara lá se vão minhas férias!
Tive inteligência emocional acima do esperado, meu pai ficou muito preocupado de eu ficar transtornada e aborrecida a ponto de ter um piti, mas logo viu que esse não seria o caso.
Resolvi aproveitar uns dias na Normandia já que estava lá.
Gostei muitíssimo e pretendo voltar, Cherbourg é uma cidade muito interessante, com temas náuticos e história de montão pra contar.
No caso da Galícia, resolveram que era melhor eu conhecer Lisboa e deixar a Galícia para outra oportunidade.
Como podem ver, não tinha jeito era isso e pronto.Como no caso da Irlanda lidei com isso de forma exemplar e provei pra mim mesma que não sou uma "menina mimada".
Enfim, esse lugares não vão fugir do lugar, a menos que o mundo acabe mesmo, rsrs.
Pretendo ir visitá-los em outra ocasião e em outra companhia.
Não desprezando a companhia do papai, mas ele é muito católico e ia querer ver o lado católico desses países e eu estou é atras de suas origens celtas. Melhor ir com gente que também goste do assunto.
Enfim, nem tudo deu errado.
Conseguimos encontrar nossos parentes nos Alpes Franceses. Eu achei que meu primo francês se parece muito com meu pai.
Ele ficou em êxtase, o que já valeu a viagem toda.
Foi uma aventura e tanto, e da mesma forma que tudo deu errado com a Irlanda, tudo deu certo com a nossa busca em Clery.
Era de fato muito improvável encontrar alguém da família e confirmar os registros de nascimento que meu pai conseguiu da Igreja, registros de batismo e casamento. Mas quando fomos a Prefeitura, eles tinham os registros civis desde 1700 e nos mostraram o livro onde minha bisavó havia se casado.
Muito organizados esses Europeus, um exemplo a seguir.
Primeira luta: encontrar Clery.
Tínhamos os do Google e do site da commune.
Ficamos hospedados em Albertville, lugarzinho encantador, uma estação de esqui.Como era verão, mesmo com a temperatura chegando aos -1°C a cidade estava vazia.
Ninguém por lá ouvira falar de Clery, e agora?
Frontenex, essa sim. Tinha um trem pra lá de Albertville.
Meu pai parecia enlouquecido e quis sair sem tomar café, tava com o "diabo no corpo", rsrs
Chegamos bem cedo em Frontenex. A cidade era uma subida só.
Com a barriga vazia e um frio de rachar fomos subindo a rua principal e chegamos em uma espécie de boteco. Lá ninguém sabia de Clery, afê.
O interessante é que não serviam nada para comer, só bebidas.
Tinha um monte de homens bebendo álcool as 8 da matina. O bom é que lá também serviam um delicioso chocolate quente.
Verdade, acho que é o tal leite dos alpes, o chocolate fica grosso e ajudou muito na subida pra Clery.
Por fim, andando e perguntando conseguimos uma pista: era só continuar subindo até o mundo acabar que a gente chegava.
Fomos nós, subindo, subindo a montanha lê-ri-a-hoo... rsrs
Clery é uma comunidade rural que fica no alto de Frontenex. Nota, fomos a pé pois não tinha nenhum ônibus ou coisa parecida pra nos levar.
Subimos um caminho que mais parecia a floresta de Sherwood. Muito bonito, muito íngreme ...há se não fosse o chocolate quente e o frio a gente não chegava.
Lá no alto a primeira pessoa que encontramos foi o Gerard, coincidentemente nosso parente. Se é que coincidências existem.
Depois encontramos um casal muito simpático que nos mostrou a igreja, construção Celta que virou barreira romana e depois igreja católica.
O bom é que foram construindo uma coisa ao lado da outra e a gente tem a oportunidade de ver todas as fases da construção.
Do alto pode-se ver o Mont Blanc, que esta verde, nevado só nas pontas.
De forma que minha busca pelos celtas não foi totalmente perdida.
Eu encontrei os descendentes dos celtas que construíram e habitaram aquela comunidade milenar.
Melhor, encontrei a minha raiz celta, documentada e eternizada pelos monumentos funerais dos meus ancestrais que viveram nessa terra desde sempre e são a maioria da população das 124 pessoas que vivem lá!
Não desisti de conhecer a Irlanda.
Ilha Esmeralda me aguarde que um dia eu vou chegar.